quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Texto Frei Betto: Consumo, logo existo.

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Morango Orgânico x Convencional

Fonte: www.portalorganico.com.br

Equipe Portal Orgânico
Maria Regina Chiarinelli

O Portal Orgânico entrevista a Engenheira Agrônoma Priscila Terrazzan, uma das responsáveis pelo artigo publicado na Revista Iberoamericana de Tecnologia Postcosecha, sobre morango orgânico x morango convencional, onde temos mais uma constatação científica para comprovar e avalizar a superioridade do alimento orgânico frente ao convencional.

Portal Orgânico: Primeiramente queremos parabenizá-la pelo importante trabalho. Poderia dizer quem participou desta pesquisa, fazer uma apresentação do trabalho e falar qual foi o objetivo deste experimento?
Priscila Terrazzan: Agradeço o grande apoio e parabenizo também o Portal Orgânico, pelo grande serviço prestado ao setor orgânico, inclusive por conhecer de perto o trabalho de vocês (Priscila fez parte da Equipe do Portal Orgânico como estagiária quando era estudante de engenharia agronômica).
Participaram do experimento, além de mim, o doutorando Juan Saavedra Del Aguila, a doutoranda Lília Sichmann Heiffig e o professor doutor Ricardo Alfredo Kluge, todos da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". A pesquisa tem como título: Caracterização físico-química de morango, proveniente de sistemas agrícolas de produção convencional e orgânico, submetido à refrigeração.
O objetivo do trabalho foi avaliar as características físico-químicas de morangos, submetidos ao armazenamento refrigerado, provenientes de dois diferentes sistemas agrícolas de produção, o sistema de produção convencional e o sistema de produção orgânico.

Portal Orgânico: Por que o morango?
Priscila Terrazzan: Primeiramente porque o morango é considerado um fruto não-climatérico sendo de difícil conservação devido à sua rápida atividade metabólica e susceptibilidade ao ataque de agentes patogênicos. Depois por ser uma cultura bastante conhecida no meio agronômico por receber muitas aplicações de agrotóxicos - especialmente fungicidas. De 2002 a 2004 foram analisadas anualmente, pela ANVISA, 4001 amostras de alimentos in natura, entre eles o morango onde foram encontrados 46,03%, 54,55%, 39,07% de resíduos de agroquímicos, respectivamente.

Portal Orgânico: De que forma foi realizada a pesquisa, e quais foram os métodos utilizados?
Priscila Terrazzan: Os morangos foram colhidos - tanto o orgânico como o convencional - na região de Atibaia-SP e foram imediatamente transportados até o Laboratório de Fisiologia e Bioquímica Pós-colheita do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ/USP, onde foram selecionados quanto à firmeza, ausência de danos mecânicos e infecções visíveis.
Posteriormente, os frutos foram acondicionados em bandejas rígidas perfuradas de politereftalato de etileno (PET), iguais aquelas que acondicionam os morangos quando compramos em supermercados ou feiras. Os frutos foram armazenados em duas temperaturas diferentes e manteve-se a umidade relativa. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com 4 tratamentos e 4 repetições. Já, as avaliações, como perda de matéria seca, cor, doçura, teores de vitamina C, entre outras, foram realizadas a cada 3 dias, por um período de 15 dias.

Portal Orgânico: E o que vocês puderam concluir?
Priscila Terrazzan: Até o 6º dia de armazenamento os morangos apresentaram perda de massa entre 5 e 10%, sendo que após este período foram verificadas perdas entre 10 e 15%, podendo ter sido possível verificar murchamento visível e perda de brilho característico do fruto. Perdas de massa superiores a 10%, em morango, comprometem significativamente a qualidade do morango e provoca rejeição por parte dos consumidores. Inicialmente foram obtidos teores de SST de 8,3 e 7,8 ºBrix para os tratamentos morango orgânico e morango convencional, respectivamente. Durante o armazenamento foram verificadas oscilações nestes teores, tendo os valores ficado entre 7,5 e 9,0 oBrix.
Em relação à acidez obteve-se inicialmente que os tratamentos provenientes de produção orgânica apresentaram 20% mais ácido cítrico que os morangos de produção convencional. Estas diferenças se mantiveram durante o armazenamento refrigerado.
Observou-se que os morangos provenientes do sistema de produção orgânico apresentaram, inicialmente, durante e ao final do experimento, maiores teores de ácido ascórbico. Este ácido é constituinte da vitamina C total, formada pelo ácido ascórbico e pelo dehidroascórbico, ambos com poder vitamínico. Maiores teores de ácido ascórbico também foram verificados em pesquisa realizada com morango e milho provenientes de sistema de produção orgânico e sustentável comparados com os mesmos vegetais, provenientes de sistema convencional de produção.
Por fim, o morango, independente de sua procedência (sistema orgânico ou convencional), teve uma vida máxima de prateleira de 6 dias, sendo que a partir desse dia, as perdas de massa fresca ultrapassaram o valor de 10% comprometendo a qualidade do produto.

Portal Orgânico: Nos dê uma explicação. O que estes dados representam?
Priscila Terrazzan: Há poucos relatos na literatura sobre a caracterização dos produtos orgânicos em relação aos produtos de sistema convencional, bem como o seu comportamento em pós-colheita. O metabolismo do fruto orgânico parece diferir do convencional, considerando os maiores teores de acidez e de ácido ascórbico observados em nosso trabalho. Os ácidos constituem substratos para a respiração, além dos açúcares, enquanto que o ácido ascórbico participa de reações antioxidativas que se processam durante a maturação e após a colheita do fruto. É possível que o produto orgânico sofra menos estresse durante sua ontogenia que o convencional, tendo, portanto, preservado maior acidez e ácido ascórbico. No produto convencional, onde existe, antes da colheita, uma aplicação intensiva de agroquímicos, é possível que a metabolização destes compostos exija uma maior atividade metabólica do fruto, principalmente respiração, havendo consumo de ácidos nesse processo. Além disso, a utilização de ácido ascórbico em reações regenerativas, principalmente próximas às membranas celulares, locais onde os agroquímicos podem estar acumulados, pode estar acontecendo com maior intensidade no produto convencional em relação ao orgânico.


SERVIÇO:
A íntegra do experimento encontra-se disponibilizada, em inglês, na Revista Iberoamericana de Tecnologia Postcosecha, v. 8, p. 33-37, 2006. Para ter acesso, entre em contato com o Portal Orgânico que enviaremos por e-mail (arquivo em PDF).

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